sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

                             e
    se
        tudo que
                        tememos
nos
        temesse?

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Isto que acontece aqui e lá

                                                                                                 Para Rafaela Gimenes
falha na fina carne, na firme carne
o rompimento entre o teu e o meu abismo

o insulto, um espaço tempo, o susto, o reencontro
pronto, mais um susto e vamos nós há mais um ponto

fundo, muito escuro, quase puro
são estas tuas e minhas olheiras olhos faróis janelas cancelas
são estes barcos à vela,
que vão vão vão e dão dão dão
em qualquer lugar que queiram dar mar soprar rio navegar

o debate, o abate, o disfarce, me fale, vamos, diga algo
daí: tanta língua tanta verdade tanta mentira tanta sacanagem tanta vida

burramente o pé na porta

a tremula carne se nega, espasmos
falo na boca da tua boca
papo, não trato, falo, acabo,
resmungo um mundo e lhe deixo com um beijo no lado direito do rosto
eu sofro



(Ao som de René Aubry - Fil de Verre)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

nome próprio (descendo as escadas)

Sul de céu
  azul.
     Ana cochila no samba,
ou será "cochicha no samba"?


Bem, de santa, Ana 
- de certo - 
não tem nada.


A palavra: SUZANA, uma escada.

(o poeta ri)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

In memoriam (filho de Gaia)

Penso.
Penso mais.
Mais.
Olho para baixo e vejo meus dedos digitarem este texto.
Pensei em dizer aquilo, mas talvez aquilo outro seja melhor aqui. Não que haja segredos, até porque publico todos sem discriminação - certo ou feio - são, vão e pronto.

Tracejo.
Calmo e estúpido, impoluto.
Tracejo:
Boca.
Nariz.
Olhos.
Orelhas.

A boca, os olhos e as orelhas são mais difíceis, refaço, rasgo, xingo, vou mijar, volto, ascendo a luz da vela, xícara, vinho, depois café.

Sigo.

Memória experimental, bêbada, risonha, me passa a faca preu rasgar o pão. Rasgo:

Havia uma pia, nela a bunda, o rasgo, o amasso, a língua. O não e o não, o não gritando desesperadamente que sim - sabíamos do estrago - de pé rolávamos. 

Pratos facas garfos colheres
levitavam todos
lentos
mudos todos
esbarravam-se
caiam todos
inteiros todos

Não levitava eu e você
Que corações amargos, pesados
Soluçam penumbram apenas
Fazem da vida instante agora, cacos

Posso lhe dizer que me curei. Você?

Pausa.

É tarde, o sol está lá nascido a 3 horas, a cama e você desarrumadas, tão clarinhas e lindas as duas - naquele momento quis grudar os olhos no teto, apesar que podia eu imaginar ver você assim do alto, um desenho desalinhado harmônico - lençóis brancos sobre o corpo teso de mulher de 27 anos. Do teu lado direito, no chão, estava lá meus ossos cobertos por esta capa de pele e pelos que chamam, que chamo de Eu e o colchão magro e duro, cansado.

Soluço.

E tudo aquilo se desfaz como a rapidez da luz, o cheiro de agora é de um café apressado, quase calado, estamos na mesma cozinha clara beje, nada levita, nem mesmo os aromas de café e pão, que parecem até rastejar-se pelo chão, como quem fojem.

Bagunço as idéias.
Digo: não direi uma só palavra sobre esta despedida, sobre este corredor feio estreito, sobre aquela escada e seus degraus, sobre você. Direi de mim, que é o que sei.

E o poema me escorreu pelas pernas, manchando as vestes, o mais prematuro dos prematuros, meu aborto, meu coito.

Tracejo.
Sobrancelhas cabelos pescoço...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

                                                                                          Para Daniela Sophie
sei, andei e ando

                            sem ti
                                      do
                               que
 me
                               serve

esta palma da mão
esta
        anotação
                       na
                           palma
                           da
                           memoria

e ando
e amo

                                        respiro

eu acredito
eu insisto
eu infinito
                eu morto
           eu dentro do seu corpo
     eu grito
            gemo
                     eu lembrança
                     você cheiro


calmo                                          só

                    na falta
                    do que
                     nunca
                      tive

pai mãe irmãos amigos

                                    aqueles
         que no desespero
         aqueles
                     que no berço da saudade

gritei
chorei
liguei
rezei


        e fui feliz


(Ao som de René Aubry - Invites sur la terra)

sábado, 28 de maio de 2011

construção

filho do Sol
filho da Lua
filho da Puta

Pro meu pai

Pras horas que há explosão em meu estômago
A benção que já não mais lhe peço
Do que combinamos, eu nunca cumpri
Vários atrasos, duzentos mil palavrões

Minha falta de cheiro

Faca serrote martelo felpas, meus dedos
Teu cafuné, cabelos
Nossas rugas, as que fiz, as que lhe fizeram o tempo
Seu enorme pé, tuas mãos
Cê tem chulé
Café bom
Do que eu e você não acreditamos mais
Sardas e cordões
Sem canções, talvez uma agora, sei não

Me acorda, vai
Me leva pra escola
Pro trabalho contigo
Um abraço
Uma chance, vai

Tá, eu vou dormir cedo.
Vou dar um jeito.
Eu sei, tá bom!
"Você sempre sabe, Raul."
Me arranja um trocado?

Eu sempre admirado, mesmo que distraído
Você sempre tão humano
Cara de bravo

Traga as malas, corações
Trovoadas, uns vários riscos no céu, chuvarada

Dá descarga
Calce o chinelo
Ó a friagem
Volte cedo
Olhe o tempo que cê tá no chuveiro.

As muitas há muitas um bilhão
Exagero

Vou sempre, sei bem eu, que sempre, sim
Te amar muito, cara!

sábado, 14 de maio de 2011

Contrito

Já que ti ponta pra céu, cai d'asas navegar
Fura-te a imagem e alarga, salta
Fundo, acima d'olho, num posto desconforto, nu
Teu bem seguir lembrar, embeber d'água, canto flor
Entre pilhas, horizonte, veemente vê que se toma partida
E vá de sumiço, evaporar

Prenúncio é de calma, "avis rara, avis cara"

na sala, o sofá, frio, só, de canto, num canto

terça-feira, 10 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Paula

Pra passo, traço, ãfa de escorrer por longe, debandado
palmo a palmo, no soletrar de cada seio atritar

por meios, o fixo, alegria imutável, burra
em falta o escuro se fez noite
num corre-corre sem sentido
um sopro torto, retumbante, anuncia claro um sol manhã

...teu corpo, por toda mão, tua mão por todo corpo

Intimo, cravar num visto, terras inexpiadas, passadas
desafino pleno, num risco preciso, deleitável
entre dentes, o par língua emaranhado, saliva
cheiro de fio a corpo

(Ao som de Hermeto Pascoal - Fabíola)
o amor não veio
separou calça sapato meia camisa cinto
programou o relógio
deitou mais cedo
veio o bocejo
chegou o sono sonhos pesadelos
o dia veio
junto veio o relógio e seu canto tão pontual
ouvidos ouviam
olhos abriam
pés e mãos trabalhando o eterno tão difícil levantar
já de pé
mão esquerda ajeitada o pau e as bolas
a direita coçava o braço esquerdo
caminhou pro chuveiro
que choveu e choveu, por longos 3 minutos
secou tudo, dera mais atenção aos dedos do pé e o corte que divide a bunda
não gostava de sabores azedos pelo corpo
vestiu tudo, penteou os cabelos, requentou o café preto e saiu
saiu pela porta, não pela janela
janelas são portas de paisagem
portas são apenas portas de passagem
partiu
foi pela calçada toda errada esburacada
pensava enquanto ia
o amor não veio
se é que ele existiu nestes teus rosados e pequenos seios
além dos meus

(Ao som de Erik Satie)

domingo, 8 de maio de 2011

Sangue preso

Guizo cascavel, montanha de subida rala respiração, fumante sinusite rinite bronquite de boa inspiração, me arrebenta a porta, invada minha janela, cuspa boas idéias, me atire dum penhasco, envolva-me com um ré, soa tua boca rosa amarela em meu ouvido, suor tua pele sua na minha, me machuque, me destrua, invada-me em guerra, exploda minha cabeça, fure meu telhado, corte meu cabelo, morda os meus dedos.