sábado, 17 de maio de 2014

Benê


                                                                                                         pra Benedito, el gato

eu né,
caso pense em teu nome
me vem de imediato esta inspiração profunda...
que é de claro sintoma, SAUDADES

se lhe penso, Benedito
inspiro e expiro...
é dificil

movimentos desconhecidos
num buraco que se instalou
depois que você sumiu, amigo

eu te quero
e sempre ei de querer
mas devemos concordar, é dificil...

esta ausência
esta falta de notícia
esta vista que não alcança
este instinto coxo:
não dão conta
não me dão a conta
não me pagam a conta

este coração faliu, amigo
depois que você, partiu

domingo, 11 de maio de 2014

Mãe

                                                                                                       pra Fátima

amanheceu tarde esta manhã
mamãe não me chamou
a luz gritava e transbordava da janela
disparando raios nem tão trovões
eram raios mansos
é ínicio de inverno no Brasil
chuvisca ralo e venta bem gelado

mãe acha que não sou mais criança
mas vive me chamando a atenção

do quarto ainda posso ouví-la
ela fala (mãe fala bem alto)
meu pai escuta
devem estar tomando café, penso

saco os dois cobertores, um verde, um beje
somando os dois, dá um barato só, puro verão

no que levanto
os joelhos já se esfriam
enquanto busco um agasalho
ainda escuto ela falar
mas a tv já está ligada, provavelmente meu pai assiste
mas mãe fala
parece que fala sem necessidade de que alguém a ouça
mas eu ouço

abro a porta
escovo os dentes
e desço
ela prepara um macarrão
peço um beijo, lhe dou um abraço
ela deixa, mas não diz nada
cansou de falar, penso
puxo assunto, mostro uma música
não deve ser fácil ser mãe no dia das mães
ela diz que tem macarrão sem carne pra mim
agradeço e encho uma xícara com café

lhe dou umas miradas
penso um montão, mas não digo mais nada

esse jeito
esse genio, eita jeito bravo da porra de ser
eita mãe, suspiro

já não caibo em seu colo
já não lhe beijo antes de dormir
já não sei como dizer

a gente se espalha nas ancas dos dias
e se deixa tragar por este planeta
porra, mãe
vim daí
eu sou daí
sou você


meu sorriso também sobresalta as maçãs do rosto
também apontam o céu
também enrrugam os olhos
e me enfestam de felicidade
e me deixam sem fôlego

mãe
quando gargalhamos na rede
vi que eu era você, você era tão eu e tão sua mãe
tão planeta, tão estrela, um universo confuso de tão humano
burro, forte, mulher, mãe

eita bixiga de vida
cê bem mereceu um filho assim
quem mandou ser este poço
esta delicadeza
esta mina
este rojão aceso
e BOOM
choramos juntos
mãe, você é maior poeta que conheço


não engasgue


me encanto
se ainda me encanto, que graça
me restam chances
sem dúvida, me restam chances
que graça
a vida
essa praça
essas figuras
essas minúsculas sombras
essa mulher
esta mulher
e essa mulher?
meu amigo, o que foi aquilo?
tanto adormeço
tonto
mais pareço um dois pegas de leve
aquela primeira vez
quanta viagem
mas essa, essa, mais esta
ah, e deixo que seja
que sejo
que me trevo
que me sorte
intento
sento
essa praça, e esse bendito único banco
sento
posso? pergunto
mas sento
essa maneira de iniciar
oi, olá, cê sabe, cê viu, tá sabeno
que graça
ela riu
campanhia e vãozinhos entre os dentes
que fantástico, rápido, ainda pensei, que lindo seria
mas não foi, me engasguei e quem ela esperava chegou e acenou do outro lado
mal trato da porra, merda, que merda, cuspi o chiclete e busquei os cigarros


(mas eu não fumo, hahahah)
                                                                                                                               pra Jair

de que me servem centenas de milhares de palavras, essa sabedoria 5 anos de estudo, estes papéis enquadrados na parede da sala, esses documentos, o dinheiro que carrego nos bolsos, estas músicas, a literatura, duas línguas, estas viagens.
se o susto de lhe perder no abismo da morte, só me faz esse isso coisa sem nome, sem palavra.

traças-casa-coração


de você restou apenas um sutiã e uma calcinha, ambas salgadas de mar, agora já secas, mas visivelmente repletas de areia, enroladinhas em teu vestido branco florido de cores diversas, não vou jogá-los fora, é certo, mas quando der, vê se passa aqui, estou tendo problemas com traças.