segunda-feira, 26 de novembro de 2012


agora
que aprendi amarrar os sapatos
procuro casa
e sandálias
procuro em mim 
um único motivo que me realmente mova

terça-feira, 13 de novembro de 2012

trouxe-mouxe


13.43h, trouxe-mouxe
Esqueci das horas e ela de mim

Estive quinta-feira, cheguei dobrar a esquina cotovelo
Acabei suspenso

Lhe deixei algumas cartas no correio esta tarde, já me desculpo pela pressa escrita
Tem café na geladeira!

Aurora Borealis


Anuviou, esqueci das horas e ela de mim
3.43h, trouxe-mouxe

Acabei suspenso
Estive quarta-feira, cheguei dobrar a esquina cotovelo

Tem café na geladeira.
Te deixei umas cartas no correio, já me desculpo pela pressa escrita

Aurora Borealis

terça-feira, 30 de outubro de 2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

noites em que o silêncio
são troncos
                                               que tombam
                                               folhas que bailam

                                               telhados arrancados

rajadas de vento
que adentram a janela e batem na porta do meu quarto

Olá, você está?

susto na noite

tumulto

entre
         a noite e o depois

o ônibus segue seco e duro
sem quem guie
sem quem cobre
vazio

no vidro
riscos
palavras
cartas
pegadas
a minha cara quase apagada

algumas memórias merecem um túmulo
fundo
           palmas
                       e mais palmas
                       no mais absoluto

profundo
                       escuro
                         
                                                 estou cansado de fantasmas

domingo, 16 de setembro de 2012

funeral

Um banana. Batuta? que nada, ô. Bastou, o pai a mãe: tá! O afroxar do cabresto, num sabe? Imagine, o bicho saiu em disparada, galopando, babando e relinchando. Primeiro pela praça, feito como cão que cheira e mija, demarca. Uma graça. Depois pelas ruas de ladrilho, tropeçando caindo ralando marcando de sangue todo caminho. Até que deu na rua do seu Lazaro. Naquela construção, isso mesmo. Pois bem, meu amigo. Invadiu. Subiu até o topo, deu na laje. Pulou pulou e pulou, pulou mais um pouco, e como pulava e gargalhava, sorria entre soluços. Riu pra praça lá embaixo, acenou pro pai e pra mãe - pra mãe que não sorria, mas que respondia acenando -.
A vida é mesmo pouco, muito, muito pouco. Vejá só. O bicho sei lá como é que se enroscou tropeçou, mas caiu, é... caiu de papo, estirado, durinho da silva numa ponta de ferro, que deu no papo do bicho, abrindo caminho, dando na testa, fodendo-lhe o rosto todinho.

Ah mas se isso num é lá jeito de morrer, morreu, taí encaixotado o bichinho menino.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

nota

preciso falar mais
espremer o minímo, sabe
me mover

caminhar
pedalar
preciso caminhar, ando depressa demais
calcanhares doloridos demais

- pindurado ao telefone rabisco um papel inteirinho
mancho as sombras que alguma coisa faz
com um amarelo calmo branquinho
conforme rabisco surgi desforme formas, acho tudo bonito
por instantes penso que devo voltar a desenhar

tudo esvai -

troquei a lâmpada do quarto faz um tempo
não suporto luz fraca
joguei fora muita coisa daquela última gaveta
logo estará entupida de novo
tenho tido intermináveis dores de cabeça
acho que é o tal do último dente nascendo
vou ao dentista no sábado

por enquanto sigo pingando trinta gotas e tomando
neste começo de semana tenho muito trabalho
ando meio zumbi

meu filme tá parado


preciso desligar, tenho que dormir

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

         decolar
         voar
aterrizar aterrissar
        pousar

         e vir e ver

amar o que viu
         amar que veio
viver quem vem
         ver quem vem
  tocar o que chegou
sorrir a boca a língua o dente
o céu a campainha
    o pau a buceta
    os pelos todos
 os cheiros todos
    o corpo a alma
pescoço mãos e pés
     sorrir tudo

são tantos dedos olhos narinas

e te reconheço
voz
rosto tronco corpo
nome de batismo
pai mãe irmãos
teus dentes teu sorriso

te reconheço
e me assusto com isso

nossa inteligência
esta nossa ardência
       esta nossa
       que é nossa
       toda nossa
   vontade coragem
                 de viver
  e venha
  chegue
              vamos
  chegue logo

  venha logo
                        meu amor

(Ao som de Seu Jorge & Almaz - Errare Humanum Est)

sábado, 21 de julho de 2012

                                                                                  para o amigo, Tiago Urizze

se nesta falta
    me flauta tudo que me enfarta
se não há Fá Rê Ga Bru Jô

     tudo lavado, embaçado
a vista um estilhaço
        coração um abismo
trato logo de ligar:

— Tiago, me ajuda cara, tá foda, fodinha.
soube esta manhã que daria
gozado saber
daquilo que a pouco
             não sabia

segunda-feira, 16 de julho de 2012

de alma encharcada

rua inclinada
                     a chuva cai
                     escorre escorre sentada
            como se quisesse
            se fizesse
            e pudesse
e querer
nada mais é que querer, e nada
                                             nada mais
que eu caia
                  e escorra
a minha bunda sentada
e nádegas nádegas
                 pela enxurrada
feliz de calças encharcadas (lavada)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

domingo, 24 de junho de 2012


esquece a casa a casca o casco o destelhamento
o mofo que toma o canto esquerdo do teto do quarto
            a secreção

atrasado, esquece os sapatos (sai descalço)

esquece o passo
o tempo
esquece o próprio rosto

sem pó nem café cerveja vinho
             sem janta
             sem banho

a pele que descama
que se desfaz e arranha em contato com qualquer superfície áspera

esquece os dias
                         o sol
                             o céu
                  a noite
a namorada - namorada? -
a palavra
               o sexo

rosas num copo d'água

esquece a conta
esquece o mês
                         esquece esquece
esquece

não alimenta o peixinho o gatinho o cachorro

as baratas rodopiam pela casa
                                tudo as traças

          
            esquecer não é fácil


(Ao som de Simon & Garfunkel - Bookends)

sábado, 23 de junho de 2012

ainda bem
que tenho
uma bicicleta
e meia dúzia
de amigos
para abraçar
e chorar
ainda bem

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Figueiredo, constelação de Lúbia

de nada servem os mapas
sim, de que servem os mapas?
bússolas
pegadas
migalhas de pão

de que servem os amigos
uma mão
de que serve?

o ofício o dom o amor o vício a guerra o tom

e esta solidão
este tudo que não
nada vezes não vejo nada
e nado sem mapa
sem pés de pato

sem mim
sem quase
semi quase
semi enfarte
semi vivo
morto

tudo meio
estou morto
tudo tudo tudo tudo

tão quase tão quanto tão chato tão santo

não, os mapas nunca me servirão de nada
os mapas eu rasgo
as Três Marias eu não
as Sete Irmãs não
Vênus eu jamais
Leo Hidra Andrômeda Órion Escorpião Touro Peixes eu nunca

estrelas, um bicho luminoso, estrelas
um bicho morto
constelações de uma luz assim tão grandiosa e numerosa
estrelas mortas
de que me servem as estrelas?
estrelas
de que me servem?

abro o caderno todo o domingo
assim, imaginando encontrar
encontrar o teu caminho
um caminho que dê em seu caminho
de que o caderno de domingo
bata os nossos signos
e diga:
vá, vá que dará
e eu iria flecha
e eu iria seta
e eu iria

pai, de que me servem estas estrelas, mãe?

- ninguém responde, concluo eu, afoito -

nada, nada além da certeza de quão grande é
o espaço a imensidão essa solidão
o uno o verso
e de quão grão sou
mas ainda sim, eu rasgo todos mapas
e acredito que te encontro no caminho
vivo
vida.


(Ao som de Tortoise - A simple way to go faster than light that does not work)

para ouvir o poema em áudio e vídeo:


domingo, 3 de junho de 2012

quase

                 sumo
                 úmido

disparo curtos pensamentos pelo quarto
            rajadas

                 sumo
          seco
                          desço
                 fundo
as escadas de casa
pensamento lento
              sem fundo
              sem sumo

abro a geladeira e me esqueço de tudo

domingo, 27 de maio de 2012

Esmaecido

num umbigo manhã
                                 vem dela a sombra que sopra e assopra
de sorriso em sorriso amarelo encardido
                somova-se ditos
vinha ele correndo e curvando as calçadas

e aponta lá o passo do trouxa, diziam
"E veja lá, o homem de h's, numa procura do alcance par"

corre pula berra o cabrito menino, sujo risonho, moleque ontem

por certo vivia questionar
                                         aperto braço beijo dado
pulava por saltos altos
            como quem pula de braços a abraçar céu e ar

eu chorava espera, eu caia calmaria, eu dizia soprar

"Venha cá meu nego, ponha-se deitado no quente dos meus braços"

dizia o passado mulher a quem me referia navegar em vigor                                                 

sexta-feira, 4 de maio de 2012


o que pra ti isso significa?
mudança de
                    estação ou
a vida
dizendo não?

é preciso permanecer atento
alerta de que a vida
anda
e perna apenas
passeia
e nos pés todo o pesar

o coração só tem o trabalho de bater
e doer quando há dor

caso ele pare
paro eu para sempre
pra você
               pára apenas alguns minutos dias meses ano
não há para sempre

do outro pra nós
     o pra sempre é sempre nosso
esse eterno fardo de carregar

                                              os nossos
                       próprios sacos e ovários



segunda-feira, 30 de abril de 2012

não quero nada
nadar contra a maré
não é lá rima fácil
não, nem mesmo sei
se o vento que faz
cospe-me
pro lado errado
ou pro lado contrário
pensamento novo
e de novo
não acredito no novo
um menino desses de unhas sujas
me bateu a porta
pedindo esmola

dei-lhe um tiro na cachola
e voou idéias para tudo que é lado

sexta-feira, 20 de abril de 2012

dedicado


— sabe mãe
dói aqui
              há meses

não sai sol
dor sem sol
dor sem sal
                   
                    sem língua, sabe
                    uma íngua, não sabe
                    uma casquinha
                    uma coceirinha
                    uma ferida
uma mentirinha, sabe?

— uma vida, menino.

sábado, 17 de março de 2012

este que chora, sou eu
       não o eu do corre-corre
       sangria desatada
       lacrimejando entre fumaças
este que chora
                       é sal e água
                                          berreiro
                       boca aberta



        minha
alma
estampada
na faceta
               cavera da 
                           cara

sábado, 10 de março de 2012

apesar desta
                      altura
uma criança bate
        em
        mim

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

desdenho

desce e sobe
feito gesto
um novo jeito
obsceno
de
observar
o teu plano verso
avesso
do cheiro
que absolutamente
não me esqueço
o cheiro
do teu cheiro

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Esta carcaça pesa, amigo
a carcaça custa
                    e fuça
              tritura

Esta criatura
                     de céu
              pelos e unhas
pisa e se mistura
                  nega o sangue
e lambe os buracos da
                                     carne
           cheira e fede
 e mete
             inerte
      sua
             não nunca
      sonha
dorme e dissolve
                            o querer e a coragem

não quero embrutecer, amigo

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Desembarque

Pairar de nuvens, mutuação, xiitas, prédio árvore unha céu, pulmão. Estes galhos e folhas, invasão, não vê, não verde.
"O plantio de postes e fios tem crescido ano a ano, nossos canteiros de flores calçadas e asfalto tem enfeitado a cidade inteira, quando chuva, enchente. Peixe pneu".
Acinzentado.
Gente cansaço.
Corrida contra o tempo.
Engarrafamento
Estupidez.
crescimento.